sexta-feira, julho 28, 2006

Estúpida guerra de estúpidos



Os Illuminati enfim conseguiram detonar mais uma estúpida guerra no Líbano. Aqui vai um poema de Bertold Brecht, que eu dedico ao governo israelense: (e outro momento escreverei sobre essa guerra)

"O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte
Derruba uma floresta esmaga cem Homens,
Mas tem um defeito - Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso: Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito - Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito - Sabe pensar
"

(Bertold Brecht)

quinta-feira, julho 27, 2006

Um conto escatológico



Pedro acordou cedo naquela manhã e ainda de olhos fechados levantou-se, espreguiçando-se demoradamente enquanto bocejava emitindo sons guturais. Lembrou-se de cuidadosamente descer da cama pisando o chão primeiramente com o seu pé direito, para que o destino lhe favorecesse aquele dia.
(...)
Nestor, o pé-direito de Pedro, tinha medo de ao acordar ser involuntariamente levado a adentrar o penico que ficava logo abaixo da cama. Colecionava pesadelos amarelos e molhados, e assim era um pé-direito ansioso e um pouco molenga também.
(...)
Soriano era o penico que ficava debaixo da cama. Era branco e um tanto quanto gasto. Suas bordas já não mais seguravam a laca como antigamente e ele chegava a se envergonhar disso. Como não fumava, também não lhe sobravam justificativas para as manchas amarelas em sua superfície, que obviamente ali estavam por conta da urina de Pedro.
(...)
Marta era a urina de Pedro, sendo morna enquanto estava nele e fria quando estava em Soriano. Não era muito simpática, não obstante os romanos a terem utilizado como asséptico bucal muitos séculos atrás. Nem mesmo isso era suficiente para que a tornasse bem quista. Ela era mais amarela quando saía pela manhã. E mais clara durante o resto do dia. Era filha de Gisele, a bexiga de Pedro. Na realidade Gisele era a mãe de aluguel, que apenas a gerava, mas seus pais biológicos eram o casal de rins Jaime e Márcia.
(...)
Jaime e Márcia trabalhavam muito para filtrar e eliminar as porcarias que Pedro consumia durante o dia. Já haviam reclamado com o Síndico, o senhor Moreira, estômago de Pedro. Não faltaram reuniões de condôminos exigindo um basta, afinal prejudicava toda a comunidade. Dos que mais reclamavam constava a moradora da cobertura: Lisandra, a pele, que vivia cansada de expelir o excedente de toxinas, o que por sinal a deixava cheia de espinhas.
(...)
O Sr. Moreira havia solicitado à porteira Flávia, a boca, que fizesse greve e permanecesse fechada, mas sem sucesso. Era muito teimosa e descuidada e deixava todo mundo passar. Assim, todos viviam em clima de briga, dia a dia.
(...)
Só que naquela manhã Pedro só conseguiu dar dois passos (o primeiro com Nestor, o segundo com Zeca - o pé esquerdo) e foi direto ao chão. Fulminado por um infarto causado por entopimento vascular. Flávia arrebentou-se. Um pouco de sangue escapoliu por ela, tentando ver o que acontecia lá fora. Mas não durou muito tempo. Secou.
(...)
Pedro, por ironia do destino, era desentupidor de encanamentos.
e seu pai Adolfo, era ferreiro. E assim foi escrito em sua lápide:
"Aqui jaz Pedro, que morava em casa de ferreiro, mas seu espeto era de pau."

quarta-feira, julho 26, 2006

A incrível história do pepino que descobriu o sentido da vida



Baltazar era um pepino e, como todo vegetal, era dotado de paredes celulares em suas células, o que não dava para armar uma rede mas lhe facilitava o transporte ativo de micronutrientes. Era um vegetal comum e passaria até despercebido entre os demais se não fosse a sua insatisfação consigo mesmo, o que o levava muitas vezes a situações desconcertantes. Não era raro encontrá-lo dependurado de ponta cabeça em árvores experimentando a vida de fruta, ou enfiado por debaixo da terra investigando a vida dos tubérculos e rizomas. Também já mergulhou em rios profundos para aprender com as esponjas e aventurou-se em altas montanhas em busca de si mesmo, motivo de pilhéria entre os seus semelhantes que desdenhavam sua inquietação em aceitar o destino pepinístico. Assim era Baltazar, que carregava dentro de si um vazio que estava longe de ser preenchido com suas sementes. E foi assim que um dia, cansado de sua vida vegetativa, Baltazar resolveu mudar de vida. Abandonou a horta e foi para a cidade grande, onde talvez pudesse encontrar respostas para seus questionamentos existenciais.

Mal sabia que o pior lhe aguardava e a sobrevivência foi difícil. Precisou dormir ao relento por vários dias e sujeitar-se à indiferença dos habitantes urbanos, loucos que eram, com suas existências cíclicas e absurdamente mais rotineiras, presos em fios letais invisíveis chamados de "civilização". Tinham um vazio ainda maior disfarçados por analgésicos e entorpecentes, o que aliviava a dor daqueles que supostamente poderiam ajudá-lo. Desesperançoso, Baltazar vivia seus dias esperando a morte chegar, se virando como podia, mendigando atenção e realizando alguns truques para arrecadar fundos que lhe garantissem a subsistência. E um dia, quando segurava o último suspiro antes de dizer adeus a tudo e entregar-se ao fatídico destino, viu algo que mudou radicalemente sua vida: numa janela, no açougue ao lado, uma linda e formosa salame.

Foi amor à primeira vista, e nesse momento arrebatedor teve a certeza de que ela era a mulher (?) da sua vida. Acenou e foi prontamente correspondido, pois os olhares desde então não mais se desviavam. Chamava-se Salete, e era uma salame defumada, o que lhe dava ainda mais charme. Salete passava os dias a contemplar o lado de fora da vitrine, e já estava cansada de ser paquerada pelos cachorros da vizinhança que babavam por ela, todos com segundas intenções que lhe coravam a face. Ao ver aquele verde e simpático pepino, algo em seu coração foi tocado inexplicavelemente. Não tiveram mais dúvida: foram feitos um para o outro. Baltazar tomou-a nos braços e e juntos fugiram para Paspartópolis, terra da plenitude, onde puderam ter lindos pepininhos e salaminhos.

E foram felizes para sempre...

terça-feira, julho 25, 2006

Metades

Sempre achei o cara meio piegas, e não é nem mesmo o meu gênero musical predileto. Mas às vezes as coisas chegam até a gente de forma surpreendente, pois mostra que a água dolorosa que bebo não é tão inacessível assim. Desculpe-me meu caro Oswaldo Montenegro pelo preconceito. Parabéns pelo poema. Você não poderia ter (se/me/nos) exposto de forma melhor.




Metade
(Oswaldo Montenegro )

"E que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a pessoa que eu amo seja para sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
a outra metade é saudade

Que as palavras que falo
sejam apenas respeitada
como a única coisa que resta
em uma pessoa inundada de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
a outra metade o que calo

que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infancia
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei

que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
a outra metade cansaço

que a vida me aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
a outra metade é canção

que minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também..."

Bravo.

sexta-feira, julho 14, 2006

Agradecimento breve



Existem pessoas que passam por nossas vidas e conseguem plantar flores em nosso peito. Às vezes se parecem com furacões e na mesma rapidez e força que vêm também vão, deixando a experiência arrebatadora que nos põe em movimento novamente. Em outros casos são como a suave brisa perfumada da manhã, acordando nossos sentidos internos e despertando o poeta ou escritor guardado dentro da gaveta, distraído que estava com o pandemônio exterior. Forte ou suave são caminhos que levam aos nossos recônditos espaços interiores, onde se guardam as nossas vestes dry-fits e capacetes ou nossos camisolões de seda e pantufas.

De forma surpreendente, essas fantásticas pessoas conseguem tocar o meu espírito (guardado a sete chaves) e acionar algumas engrenagens... E aí que a Euláliomáquina volta aos trilhos existenciais com novo ânimo e um pouco mais de combustível no surpreendente caminho das constelações mamíferas, entre aqueles que mordem e aqueles que aquecem.

Muito obrigado, mãe Natureza, por essas pessoas especiais que passam por aqui...

quinta-feira, julho 13, 2006

(...)


(c) Fernando Gonsales

Advertência: Prezados leitores, esta tirinha é pura enrolação enquanto não tomo coragem para escrever no blog. Tenho novidades, mas a minha vida está uma loucura até este sábado. Até lá ficarei tapeando vocês descaradamente. Abraços!

segunda-feira, julho 03, 2006

Sonhos amarelos



Ela corria por entre o campo de girassóis, com seu macacão azul e seu chapéu florido. Adorava mergulhar em todo aquele amarelo e os girassóis adoravam o seu perfume. Leve e ágil, mais parecia uma borboleta, assim cochichavam os girassóis uns para os outros. Talvez fosse o seu macacão sujo de tintas acrílicas de várias cores que lhe fazia ainda mais colorida. Mas o fato é que sua alma era colorida e as cores transbordavam do seu espírito em forma de risadas divertidas. Ela ria simplesmente porque sabia rir, tanto quanto colorir a sua vida e daqueles que tinham a sorte de conhecê-la.

Corria de braços abertos, dançando com o vento e aquecendo-se com o sol, deixando a brisa, a lua e as borboletas enciumadas, porque era única. Ela, o vento, o sol e a eternidade... Com um rápido movimento abriu suas asas coloridas e voou risonha, se divertindo com as cósegas que o vento lhe fazia... Voou entre cores, sons e perfumes. Além do tempo e do espaço; além de si mesma. Foi talvez o vôo mais alto que jamais havia imaginado...

Até que acordou, com o sol beijando-lhe a face em mais uma manhã de sua vida. E ali ficou, sorrindo, sem saber se era uma menina que sonhou ser uma borboleta, ou se era uma borboleta que sonhava ser uma menina...