segunda-feira, maio 01, 2006

Fofocas divinas (ou delírios iamemísticos) parte II

Uma característica nossa, como mamíferos robotizados que somos, é a de protelar sempre qualquer atitude de mudança fundamental que beneficie nosso desenvolvimento pessoal (no sentido integral, naturalmente). O Caminho de Auto-realização é longo, cansativo e cheio de sofás. A gente de vez enquanto senta para dar uma descansadazinha rápida em um deles e quando menos esperamos passaram alguns anos enquanto estávamos sentados. Alguns são poltronas simples que facilitam o retorno rápido ao Caminho. Outros são enormes e maravilhosamente confortáveis, com TV, ar-climatizado e frigobar ao lado. Quanto mais conforto, mais nos perdemos e mergulhamos numa auto-alienação. E só mesmo quando há um interferência "externa" (cortam a energia do frigobar, ou a programação da TV sai do ar por um momento) é que nos damos conta de que estávamos sentados ali provisoriamente, e nos pomos a Caminhar novamente. Muitos nem se levantam.



No plano prático esses momentos normalmente são uma sacudida: uma doença repentina, um acidente, uma falência inesperada, ou um óbito próximo. Todos de certa forma relacionados com a perspectiva de morte eminente, que é capaz de levantar qualquer um do "sofá existencial" e por a mão na massa. Basta o médico dizer que se não pararmos de comer ou fumar aquilo que nossos dias estão contados. Para uns basta um aviso, a Morte dá só um "psiu" de longe ou telefona. Aos menos atentos ela dá uma cutucada no ombro. E para outros só mesmo um chute no saco, que pode vir em forma de um infarto, um derrame, ou um incêndio de sua casa. As mensagens vem de acordo com os nossos ouvidos. "Quem tem ouvidos que ouça", já era dito em um certo manual de bordo.

Foi aí que liguei o meu neuro-modem e fiz mais uma conexão com "Zeus", para saber o porque desse lero-lero. Disse-me que isso era um dispositivo instalado em cada um de nós, tecnologia antiga mas eficiente, que Ele instalou já alguns vários milhões de anos. Antes era pior. A gente recebia um choque nos testículos, mas como um dia ficamos eretos e mais sabidinhos, não precisou mais do método bovino. Arrisquei-me perguntar-Lhe qual era o sentido da Vida se lá no final a Morte estaria esperando de braços abertos de qualquer forma. E Ele respondeu-me com um sorriso: "Ué? E você acha que se todo mundo fosse imortal alguém se levantaria do sofá?". Vou pensar sobre isso...

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